Cannabis gera debate científico e polêmica entre médicos e pesquisadores de drogas no Brasil
Histórico:
Outubro de 2005 (06/10/05) - O Depto de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) divulga o parecer intitulado "Revisão Científica: Maconha e Saúde Mental" (clique aqui para ler o texto)
Outubro/Novembro de 2005 - A Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas (Abramd) inicia discussões sobre o que entende ser "distorções" contidas no parecer da ABP.
Janeiro/2006 - O Prof Elisaldo Carilini, do CEBRID, inicia a coordenação do grupo multidisciplinar para a elaboração de um documento ABRAMD sobre a Cannabis. São feitas algumas manifestações na mídia sobre o documento da ABP.
24/07/2006 - A ABP divulga no seu site notícia sobre os posicionamentos dos membros da ABRAMD na mídia (leia documento na íntegra abaixo)
07/08/2006 - A ABRAMD envia ofício ao Presidente da ABP em resposta a notícia divulgada no site da Associação. O documento não foi divulgado ao público. Tivemos acesso ao mesmo, e destacamos um trecho dele:
"Acreditamos que a ABP, juntamente com a ABRAMD poderiam esclarecer à Associação Médica Brasileira que o Δ9 THC (também conhecido como Dronabinol) já foi objeto de dezenas de estudos científicos controlados e já está disponível como medicamento aprovado em vários paises, entre os quais os EUA, para uso médico. Esse país, por exemplo, produziu, no ano passado, cerca de meia tonelada deste princípio ativo da maconha.
Seria ainda importante a ABP e a ABRAMD informarem que vários países já abriram a “Agência da Cannabis Medicinal”, como exige a ONU, e que um extrato de Maconha (Sativex®) já é comercializado, como também o é a planta in natura produzida e controlada para uso médico pelo próprio Ministério da Saúde de Holanda."
10/08/2006 - A ABRAMD lança o documento "Maconha - Uma visão multidisciplinar" na Faculdade de Saúde Pública da USP (leia aqui a divulgação do evento e aqui um pequeno relato sobre o mesmo. O documento será publicado nos próximos dias no site do NEIP)
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Notícia divulgada em 24/07/2006 no site da ABP (retirada do link http://www.abpbrasil.org.br/noticias/exibNoticia/?not=255)
"ABP esclarece questão do uso terapêutico da maconha
Entidade reforça disponibilidade para debate sobre tema que já fazia parte de sua agenda científica
A Associação Brasileira de Psiquiatria nos seus quarenta anos de existência sempre pautou sua conduta por uma atitude de respeito às diversas tendências do pensamento científico. Agregando mais de 5.000 psiquiatras de todo o país, conta em seu quadro associativo com os profissionais das várias áreas de atuação da Psiquiatria. Surpresa diante da manifestação pública de dois dos mais renomados cientistas brasileiros que se dedicam ao estudo do uso indevido de drogas, a Diretoria da ABP vem a público expor sua posição diante de uma polêmica que só existe na teoria.
Além de sua Diretoria executiva e as diversas comissões temáticas, a ABP tem em sua estrutura organizacional seus departamentos que constituem uma de suas instâncias de produção científica. Nesse sentido estes podem expressar, naturalmente, pontos de vista sobre os assuntos relacionados à atualização do conhecimento científico de seus associados em sua área própria de atuação.
Durante o XXIII Congresso Brasileiro de Psiquiatria, ocorrido em 2005 na cidade de Belo Horizonte, o Departamento de Dependência Química da ABP promoveu um Simpósio que aspectos psiquiátricos sobre o uso da maconha. Pretendia a aludida atividade científica proporcionar a revisão e atualização sobre as repercussões psiquiátricas do uso da maconha. Tal objetivo está claramente expresso em seu texto introdutório, onde se ressalta que não era objetivo do documento tratar de questões que fugissem a este âmbito, ou seja referia-se exclusivamente aos efeitos nocivos da maconha no psiquismo.
Como dissemos a ABP se mostra surpresa com tal manifestação, a nosso ver extemporânea, que atribui a ela uma suposta atitude não só dita como conservadora, mas principalmente como exclusiva da participação de todas as correntes do pensamento científico. A Diretoria da ABP não pode concordar com tal interpretação não somente pelo exposto acima como também, e principalmente, por ter a ABP se manifestado oficialmente sobre o uso medicinal de substâncias canabinóides, como representante da Associação Médica Brasileira, em evento promovido pelo Professor Elisaldo Carlini, realizado em 2004, e cuja conclusão transcrevemos:
"Face ao exposto é sugestão da Associação Médica Brasileira que não se disponibilize o uso terapêutico da maconha fumada, que a droga continue sob estrito controle governamental, que se promovam estudos multicêntricos para avaliação e assim possível liberação para uso terapêutico de variantes estereoquímicas do delta 9 tetrahidrocanabinol como, por exemplo, o Dronabinol".
Chamamos a atenção para o fato de ter sido esta a única manifestação oficial da ABP sobre o uso terapêutico de substâncias canabinóides.
A despeito de nos pronunciarmos oficialmente sobre um documento que será lançado no próximo mês, cujo conteúdo é, portanto, desconhecido, o fazemos em respeito ao nosso corpo associativo e aos dois professores que se expressaram publicamente e merecem o nosso mais elevado respeito e admiração por suas trajetórias profissionais. Reservamos-nos, contudo, ao direito de, com argumentos, discordar da posição que adotaram em relação à Associação Brasileira de Psiquiatria.
Temos certeza que temos objetivos comuns, quais sejam o aprimoramento do conhecimento científico e a possibilidade de ampliarmos os recursos terapêuticos aos pacientes que deles necessitam.
Reiteramos desta forma nossa posição de sempre estarmos abertos ao debate científico sério e responsável e nos colocamos, como sempre, disponíveis para debatermos especificamente os aspectos terapêuticos das substâncias canabinóides, dentro dos preceitos técnicos e éticos que sempre pautaram a conduta de todos os profissionais envolvidos nesta pseudo-polêmica.
Diretoria Executiva
Associação Brasileira de Psiquiatria"