Primeiro Encontro Brasileiro de Xamanismo
Divulgarei aqui o Primeiro Encontro Brasileiro de Xamanismo, que aconteceu em São Paulo (SP), de 13 a 20 de março de 2005, na Pax. O encontro foi organizado por Léo Artése, líder do Santo Daime de São Paulo e praticante de neoxamanismo, com apoio da Associação Lua Cheia, a qual ele também dirige (http://www.xamanismo.com.br/).
Prestei, a convite de Léo Artése, uma consultoria antropológica para a realização do encontro. Além de concepções sugestões gerais, fui responsável pela idealização e organização de três mesas redondas e duas palestras, que contemplaram sobretudo os seguintes temas: as possíveis definições para o fenômeno do "xamanismo", as relações entre o xamanismo dos povos tradicionais e o xamanismo urbano, o uso de plantas sagradas no Brasil (como a jurema e a ayahuasca), e depoimentos de indígenas sobre suas concepções e práticas de pajelaça assim como sua visão acerca das atividades dos xamãs urbanos.
O Encontro congregou índios, xamãs urbanos, antropólogos, esotéricos e praticantes de artes de cura e terapias diversas, personagens de uma híbrida rede neo-xamânica que integra o movimento mais amplo da Nova Era. Participaram cerca de setenta palestrantes de várias partes do Brasil, sobretudo da região de São Paulo. Havia apenas seis indígenas presentes, os quais destaco: Fabiano e Leopardo Huni-Kuin (Kaxinawá); Wiannã e Tchydjo - Kariri Xocó; Timóteo Verá Popygua, cacique da aldeia Guarani Tenonde Porã de Parelheiros – São Paulo e Ni-í, cacique da aldeia katukina Campinas no Juruá – Acre.
Além da realização de palestras e mesas redondas, houve um agenda paralela de cursos, vivências e atendimentos. O Encontro fundou também a Associação Brasileira de Xamanismo, ABRAX (http://www.xamanismo.com.br).
Divulgarei aqui apresentações, relatos, depoimentos, anotações e comentários a respeito desta eclética reunião. Os textos publicados têm um formato pouco acadêmico, isto é, um espírito de divulgação científica. O objetivo é, antes de mais nada, promover um registro. Não existe pretensão de análise e nem uma identificação necessária com o ponto de vista expresso pelos autores nos seus textos.
Agradeço a antropóloga Sandra Goulart, tradicional parceira de trabalho, pela revisão nos textos de Walter Dias Jr. e Ana Vitória Monteiro e a Chris Marques por ceder algumas fotos.
Espero que possam aproveitar.
Embora muito possa ser dito sobre o encontro, por hora gostaria de adiantar apenas que uma das coisas mais interessantes foi a participação de Fabiano Maia Sales Yawabané Huni-Kuin e Leopardo Sales Yawabané Huni-Kuin -- irmãos, filhos do atual vice-prefeito do Município de Jordão Siã Huni-Kuin, estão estudando para se tornar pajé na tradição Kaxinawá do nishi-pae (ayahuasca). Além dos bonitos cantos que emocionaram a platéia, a presença permitiu pensar questões interessantes acerca da pouco explorada relação entre as religiões ayahuasqueiras brasileiras e o uso indígena da ayahuasca, além da representatividade indígena do evento (vejam textos no blog).
As metáforas sutis do cacique guarani Timóteo Verá Popygua ("só o sabiá entende a fala do sabiá") e a fala provocativa de José Guilherme Magnani, professor de antropologia da USP (sobre a necessidade dos neo-xamãs buscarem autenticidade para si não num xamanismo indígena genérico ou universal mas nas suas próprias práticas) -- exposições formuladas especialmente para o público em questão --, foram, na minha opinião, outros momentos fortes do evento. Aceitaria com prazer a colaboração de alguém interessado em transcrever e editar estas falas (interessados, favor escrever para: bia_labate@yahoo.com.br).
Abraços,
Bia Labate