Sobre o lançamento duplo de livros e filme em Campinas, dia 05 de dezembro
Nesta sexta feira, 05 de dezembro de 2008, o Ateliê Coletivo Céu Aberto Arte e Consciência, espaço que promove projetos culturais e artísticos, localizado em Barão Geraldo, Campinas (SP) realizará um lançamento triplo de obras sobre psicoativos: os livros “Drogas e Cultura: Novas Perspectivas” e “Religiões Ayahuasqueiras: um Balanço Bibliográfico” e o filme “O Vinho das Almas”. O evento, que ocorrerá entre as 18:00hs e às 22:00hs, contará com um bate-papo com as antropólogas Bia Labate e Isabel de Rose e com o cineasta Michael Ende, seguido de um cocktail naturalista.O livro “Drogas e Cultura: Novas Perspectivas”, uma coletânea organizada por Beatriz Caiuby Labate, Sandra Goulart, Maurício Fiore, Edward MacRae e Henrique Carneiro (Edufba, 2008), pesquisadores do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Psicoativos (NEIP), foi financiado pelo Ministério da Cultura, e tem apresentação de Gilberto Gil e Juca Ferreira. A iniciativa de organizar esta obra partiu da necessidade enfatizar o papel das Ciências Humanas nas reflexões sobre o tema das "drogas", geralmente dominados pelos discursos farmacológicos e biomédicos. A idéia central era destacar como o consumo de “drogas” está inserido dentro de diversas práticas culturais, não podendo ser reduzido a dimensões da eventual dependência, violência ou tráfico associado correntemente a certas substâncias.O livro tem 17 capítulos, e está dividido em três partes: “A história do consumo de drogas e a sua proibição no Ocidente”, com quatro artigos destacando uma reflexão sobre a história e a lógica do atual regime proibicionista das drogas; “O uso de drogas como fenômeno cultural”, com três artigos que abordam a questão da interdisciplinaridade na análise das substâncias psicoativas”; e “Uso de drogas: diversidade cultural em perspectiva ”, que abrange a maioria dos textos da coletânea, apresentando diferentes abordagens do tema das drogas, a partir dos olhares de disciplinas como a antropologia, etnologia e história.O paradoxo que ronda o tema das drogas – termo amplo e já em si ambíguo, que abrange uma ampla gama de substâncias que vão desde medicamentos vendidos em farmácias, passando pelas chamadas “drogas ilícitas”, até as plantas e rapés que são consumidos em rituais por povos indígenas e por determinados grupos religiosos rurais e urbanos - está relacionado, de um lado, a sua relevância central na sociedade contemporânea e, de outro, à quase total ausência de discussões a respeito. Espera-se que este livro seja um importante marco histórico na integração de uma perspectiva científica e antiprobicionista na agenda de debates políticos e intelectuais do país.Já o livro “Religiões Ayahuasqueiras: um Balanço Bibliográfico”, de autoria de Beatriz Caiuby Labate, Isabel Santana de Rose e Rafael Guimarães dos Santos é, como diz o próprio título, um balanço da produção realizada até o momento sobre aquilo que a literatura antropológica denomina "religiões ayahuasqueiras": Santo Daime, União do Vegetal e Barquinha, em suas diferentes linhas e vertentes. Esses movimentos religiosos, que tem como uma de suas principais bases o uso ritual da bebida ayahuasca, tiveram origem no norte do Brasil entre os anos 20, 40 e 60; a partir dos anos 80 se expandiram por todo o país e nos anos 90 se difundiram também por outras partes do mundo, estando atualmente presentes em pelo menos 23 países diferentes na América, Europa, África e Ásia. O livro apresenta um levantamento de tudo que já foi publicado no mundo sobre o tema.O trabalho, fruto de uma pesquisa que durou mais de um ano e envolveu uma ampla rede de contatos e articulações via internet, resultou em uma lista de referências bibliográficas de 70 páginas, abrangendo dez idiomas. Somado a isto, o livro contém dois capítulos: o primeiro é uma avaliação geral sobre a história desses grupos religiosos e do campo de pesquisas sobre eles, enquanto o seguindo comenta os estudos farmacológicos, psiquiátricos e psicológicos realizados no âmbito das religiões ayahuasqueiras, apontando seus principais achados, limitações e perspectivas futuras. Trata-se de uma bem sucedida tradução, para um público mais amplo e numa linguagem mais acessível, do estado da arte sobre a pesquisa científica a respeito do fenônemo.“Religiões Ayahuasqueiras: um Balanço Bibliográfico”, é um livro fundamental como introdução intelectual neste rico universo religioso e cultural e também uma referência indispensável para pesquisadores da área. Vale lembrar que o assunto vem ganhando cada vez mais atenção da mídia a partir do pedido recente, feito por algumas das principais entidades ayahuasqueiras, ao Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan), do reconhecimento do uso da ayahuasca como patrimônio imaterial da cultura brasileira.O evento também promove a estréia do filme “O Vinho das Almas”, produzido pelo cineasta Michael Ende, com edição de Luis Eduardo Pomar e consultoria de Bia Labate. Com duração de uma hora, o filme retrata a viagem de um grupo de europeus, americanos e israelenses em seus caminhos em busca de cura, auto-conhecimento e experiências místicas na região do Juruá (AC), no interior da floresta Amazônica, coração da vertente daimista do Centro Eclético da Fluente Luz Universa Raimundo Irineu Serra (Cefluris).Ao mesmo tempo etnográfico e poético, o filme é pioneiro ao retratar o fascínio que o Santo Daime e a Amazônia têm exercido sobre uma determinada audiência estrangeira, a qual freqüentemente parte numa aventura que resulta em profunda conversão, com direito a aprender a cantar os hinos em português e a importar posteriormente a religião para além-mar, numa espécie de colonização ao contrário do Velho Mundo pelo Novo Mundo.Bia Labate é antropóloga e reside em São Paulo. Concentra seus interesses no estudo de substâncias psicoativas. É autora, co-autora e co-organizadora de seis livros, com vários outros livros em processo de produção. Trabalha como escritora independente, consultora, palestrante e organizadora de conferências científicas e eventos culturais relacionados ao campo das drogas, religião e xamanismo. Também é blogueira e militante anti-proibicionista.Isabel Santana de Rose reside em Florianópolis (SC), onde cursa o doutorado em Antropologia Social na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), cujo foco é a adoção do consumo da ayahuasca pelos índios guarani do sul do Brasil. Desde a graduação vêm se dedicando ao estudo das substâncias psicoativas, ayahuasca, religiões ayahuasqueiras e assuntos afins, sendo co-autora de um livro sobre o tema e autora de diversos artigos em livros e revistas especializadas. Seu foco de interesse são as áreas de Antropologia da Saúde, Antropologia da Religião e Etnologia Indígena, possuindo interesse especial nos estudos sobre xamanismo, neo-xamanismo e diálogos inter-culturais.Michael Ende nasceu na Alemanha e começou a fotografar para revistas e jornais em 1978. Em 1985, fez suas primeiras consultorias no Brasil, para o governo do Estado do Mato Grosso. Desde 1988, vem publicando textos e fotos em diversas revistas européias, tais como Stern, Focus, Geo, Spiegel, Facts, GQ, Zeit, Süddeutsche e Vogue. Em 1991, tornou-se membro da Agência Bilderberg em Hamburgo, participando do Projeto Bilderberg na Austrália e da organização do Projeto Bilderberg em Cuba. Em 1995, começou a produzir, filmar e dirigir para canais de TV alemães, tendo produzido vários documentários. Atualmente vive entre China e Brasil.Conheça mais sobre os co-organizadores do livro "Drogas e Cultura: Novas Perspectivas" - Sandra Goulart, Maurício Fiore e Edward MacRae, assim como o co-autor do livro "Religões Ayahuasqueiras: um Balanço Biliográfico", Rafael Guimarães dos Santos, que infelizmente não poderão estar presentes no evento, no site do NEIP.