TCC sobre plantação de cipó e folha em comunidade daimista no Rio de Janeiro
Teixeira, Daniel Cabral. O uso e cultivo de plantas ritualísticas pela comunidade do Santo Daime em Galdinópolis - Nova Friburgo - RJ. Monografia de Graduação em Biologia, UFF, 2005.
Resumo:
Há, na Floresta Amazônica, uma bebida milenar ainda hoje utilizada por tribos indígenas, a Ayahuasca, preparada através da cocção do caule do cipó Banisteriopsis caapi (Malpighiaceae) com as folhas do arbusto Psychotria viridis (Rubiaceae), espécies endêmicas desta região. Com a exploração da Amazônia pelos colonizadores surgiu o contato entre culturas distintas, nascendo cultos religiosos (Santo Daime, União do Vegetal e Barquinha) que utilizam a bebida como um "sacramento" em seus rituais, expandindo seu emprego por todo Brasil e exterior. Com essa rápida disseminação, a matéria-prima nativa do chá foi se tornando escassa em alguns estados brasileiros e até mesmo objeto da biopirataria e de patentes internacionais. O objetivo desse trabalho é expor ao meio acadêmico os embates encontrados pela rápida expansão do uso destas duas plantas, divulgar uma das formas de manejo utilizadas na Região Sudeste e incentivar pesquisas brasileiras sobre estes recursos naturais e medicinais. Foram usados métodos etnobotânicos usuais (como registro etnográfico, entrevistas semi-estruturadas e observação participante) e para o estudo botânico sistemático, procedimentos padrões de coleta e identificação taxonômica junto ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro. A comunidade estudada situa-se dentro do Parque Estadual de Três Picos em Galdinópolis, município de Nova Friburgo, local de Mata Atlântica. Neste local foi observado que ambas as espécies são cultivadas em consórcio agroflorestal com plantas nativas e outras exóticas manejadas pela comunidade (leguminosas, palmeiras, bignoniáceas, etc.), verificando-se boa produção de matéria-prima para a bebida em comparação com cultivos de regiões de clima quente segundo seus cultivadores. Porém houve um evidenciado atraso na idade de colheita das plantas em Galdinópolis, para que estas estivessem aptas para a realização do chá. Algumas etapas do cultivo, como poda e colheita, permaneceram iguais às da Amazônia, outras foram adaptadas para a região, que é mais fria, sendo sempre preservada a floresta nativa. A comunidade relata utilizar as plantas para fins enteógenos e para curas de enfermidades físicas e psíquicas, como por exemplo dependências químicas e psicológicas.
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