Huni Mukaiá - Os pajés Huni-Kuin
Relato redigido por Yoshihiro Odo (**)
Comunicação feita no dia 14 de março de 2005, na mesa redonda: “Xamanismo, xamanismo urbano, xamanismo universal, xamanismo crístico, neoxamanismo: afinal o que é isto?”. Primeiro Encontro Brasileiro de Xamanismo, organização Léo Artése/ Associação Lua Cheia – Pax, São Paulo, 13 a 20 de março de 2005. (***)
Após agradecer o convite, o espaço para poder falar, elogiar “as fortes palavras os fortes ensinamentos” dados pelos palestrantes, manifestou o sentimento de irmandade para com “todos os xamãs presentes”.
Assim como os xamãs da cidade que atuam sob as diversas orientações do xamanismo mundial reivindicam o saber adquirido por meio de experiências reveladoras, aqueles que tomaram Nishi-pae (ayahuasca na língua tradicional Kaxinawá) sentem ter feito “contato com uma outra dimensão” – a dimensão “da verdade”, da espiritualidade, “da natureza”, “a terra, floresta, o sol, lua, rio”, cujo entendimento e compreensão lhe dá “poderes” para atuar sobre o mundo. “Somos todos irmãos na descoberta e abertura desta conexão”.
(sobre o xamã verdadeiro e falso): “Se estiver com a verdade pode existir. Se não, se acaba sozinho”.
“Aqui na cidade, a maior dificuldade é conviver com palavras falsas. Aqueles que estão conectados com a floresta estão com a verdade. O verdadeiro poder vem da floresta”.
(sobre pajé e xamã): “No nosso povo e no Brasil somos pajé. Mas dentro do nosso povo mesmo temos outro nome: somos Huni Mukaiá. Lá fora são os xamãs. Vocês são os xamãs. Nós somos pajés.”
“A força da natureza está aqui, com todos os poderes do mundo. Estamos sendo saudados pela força da chuva.”
(sobre a formação do pajé): “Se hoje sou um estudante para me tornar pajé, pode ser que daqui a quarenta anos possa me tornar um verdadeiro pajé”.
O estudante de pajelança fez, na abertura e no fechamento de sua apresentação, um canto Huni-Kuin do Nishi-pae, pedindo que a platéia ficasse de pé e com as mãos dadas. Foram momentos muito bonitos.
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(*) Nasceu em 1986. Filho do líder Kaxinawá e atual vice-prefeito do Município de Jordão Siã Huni-Kuin. Aos cinco anos teve iniciação em Ayahuasca com SHANNÊIBU Sueiro Huni-Kuin. Aos quinze anos passou pelo rito de passagem para se tornar liderança juvenil. Atualmente reside em Rio Branco onde há três anos representa o povo Kaxinawá e organiza o Nishi-pae (ayahuasca).
kaxinawabane@bol.com.br
(**) Acupuntor da escola japonesa. Vem participando de sessões de nishi-pae (ayahuasca) com Leopardo Sales Yawabané Huni-Kuin (Kaxinawá) há um ano e oito meses, em São Paulo.
yoshiodo@terra.com.br
(***) A mesa redonda foi idealizada e organizada pela antropóloga Bia Labate, que prestou consultoria ao Primeiro Encontro Brasileiro de Xamanismo. Pretendia discutir os seguintes temas:
- Como definir o “xamanismo”?
- Qual seria o melhor termo para classificar as práticas contemporâneas?
- Quais são critérios que permitem classificar quais atividades são ou não “xamânicas”?
- Quais são as fronteiras e limites entre o xamanismo “tradicional” e o “contemporâneo”?
- Como lideranças ou xamãs indígenas vêem os xamãs brancos?
- Como os xamãs urbanos compreendem o discurso acadêmico que critica o “neoxamanismo”?
- Como separar “verdadeiros” e “falsos” xamãs?
- Que princípios éticos norteiam ou deveriam nortear as práticas xamânicas?
A mesa redonda foi coordenada por Léo Artése (Céu da Lua Cheia/ Vôo da Águia) e composta por:
1 - Carminha Levy (Paz Géia): A universalidade e a expansão do xamanismo
2 - Sthan Xanniã (Filhos da Terra) - Nativo ou nathus? O saber nativo
3 - Cyro Leãoo (Filhos da Terra): O xamã urbano e o retorno ao sagrado
4 - Clêudio Bueno (Pax): O xamanismo do século XXI
5 - Tatiana Menkaiká (Comunidad Tawantisuyu/ Terra Mística)- Xamanismo e espiritualidade nativa (presença virtual – texto lido por Bia Labate)
6 - Fabiano Maia Sales Yawabané Huni-Kuin (estudante da pajelança Kaxinawá): Huni Mukaiá - Os pajés Huni-Kuin
7 – Wiannã (curador Kariri Xocó/ Filhos da Terra): Existem falsos xamãs?