O Centro de Cultura Cósmica

O Centro de Cultura Cósmica Suprema Luz Paz e Amor é um centro ayahuasqueiro peculiar no Brasil, que vale a pena ser conhecido. Fundado em 20 de maio de 1990, por Mestre Francisco Souza de Almeida (15.04.1944 –21.12.1999), em Cuiabá (MT), transferiu-se em 1996 para Gama (D.F.), onde se localiza hoje sua Sede Geral. Recentemente, passei um dia lá em companhia da agradabilíssima família do falecido fundador, que segue a missão de dirigir o centro.Mestre Francisco era natural do Acre. Segundo seus discípulos, conviveu durante onze anos no ambiente daimista, tendo tomado daime com o Mestre Raimundo Irineu Serra (fundador do Santo Daime), o Padrinho Sebastião Mota de Melo (fundador da vertente daimista do Cefluris) e o Mestre Antonio Geraldo (líder de um dos grupos da Barquinha).Além de frequentar os rituais do Santo Daime e da Barquinha (embora nunca tenha se fardado em nenhum dos dois grupos), Mestre Francisco, durante um período de cerca de três anos, se filiou ao centro de Mestre Augusto Jerônimo da Silva (conhecido por alguns como Augusto Queixada), uma vertente seguidora do Mestre José Gabriel da Costa (fundador da União do Vegetal), a qual se separou do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (ou UDV) após a morte de Mestre Gabriel. Ainda de acordo com relatos, Mestre Francisco foi Mestre Representante no grupo de Mestre Augusto Jerônimo da Silva, tendo ocupado o cargo de Mestre Representante de um grupo em Rio Branco (AC).O legado espiritual de Mestre Francisco sintetiza um pouco de sua trajetória. Sua escola espiritual é denominada por seus discípulos de “trabalho de Unificação” (da linha do Santo Daime com a União do Vegetal).Os rituais do Centro de Cultura Cósmica são compostos por duas partes básicas: na primeira, o estilo preponderante é de inspiração na UDV: chamadas (cânticos originais do Mestre Gabriel e outros poucos de autoria de Mestre Augusto Jerônimo da Silva, do próprio Mestre Francisco e de alguns discípulos do grupo), música mecânica, algumas poucas histórias oriundas do universo da UDV, e uma série de outros ensinamentos espirituais (entre eles, gravações com preleções do Mestre Francisco). Exclui-se a prática, comum na UDV, de perguntas dos discípulos aos mestres durante a sessão.Esta parte dura cerca de quatro horas, e é seguida de um intervalo de uma hora. Na segunda parte, o referencial é daimista. São cantados e bailados quase todos os hinários (conjunto de hinos) executados na linha do Cefluris. Esta parte do trabalho dura de acordo com a extensão do hinário, podendo variar de quatro a oito horas.De acordo com Alyson Rodrigues de Almeida, 27 anos, gerente de estacionamento, filho de Mestre Francisco e atual Mestre Geral Representante do Centro de Cultura Cósmica, “Na verdade, trazemos também outros ensinamentos de várias religiões e filosofias espirituais, sobretudo da Maçonaria e da Rosa Cruz; outras referências que auxiliem o ser humano no seu desenvolvimento espiritual são bem-vindas também, como as linhas espíritas, do oriente, católica, evangélica, e africanas”.O Centro de Cultura Cósmica parece estar em franca expansão. Atualmente possui extensões em Campo Grande (MS), Planaltina (D.F.), Cuiabá (MT) e Capixaba (AC), totalizando cerca de 150 filiados (sem contar um grande contingente de frequentadores esporádicos). Além disto, há também pelo menos 7 grupos “dissidentes” ou ramificações que surgiram a partir dos ensinamentos de Mestre Francisco.O Centro de Cultura Cósmica possui uma colônia rural no Acre onde tem plantado mais de mil pés do cipó Banisteriopsis caapi, matéria-prima que compõe a ayahuasca, e é um dos poucos grupos de fora do Acre que está regularmente registrado no IBAMA local. Seu último feitio produziu 700 litros de daime ou vegetal (ambas as expressões são utilizadas no âmbito do grupo).O Centro de Cultura Cósmica é talvez a vertente “alternativa” que mais tem se expandido no Brasil e representa um desdobramento interessante do processo de expansão das principais religiões ayahuasqueiras, colocando questões boas para pensar a natureza destes grupos a da sua dinâmica de constante fissão e reinvenção cultural. O grupo permanece ainda não estudado pela literatura antropológica especializada no tema – fica aqui a sugestão para os interessados.Para entrar em contato com o grupo:Marcelo – malito://marcellonunes@uol.com.br ou Ivan – imd7@hotmail.com

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Dissertação de Mestrado Ciências da Religião em andamento sobre o Santo Daime

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